Paixões
Pouco antes das três da tarde, Lucas Vale deixou o restaurante onde almoçara com os investidores e aproveitou a tarde de sol magnifica para caminhar pelo eletrizante centro de Roma.Entrou no Sant’Eustachio, pertinho do Pantheon e pediu um Gran Caffè. Então a viu. A um canto, saboreando um cappuccino, ela não parecia ter noção do quanto era fascinante. O cabelo negro liso espalhado pelos ombros, a pele dourada sob o vestido branco, provocaram nele pensamentos inconfessáveis. As coisas mais excitantes da vida vêm da ousadia, pensou enquanto se dirigia à mesa da linda mulher sem ligar para o fato de estar prestes a pagar um mico. ─ Sou Lucas e você ─ abordou-a com a mão estendida. O olhar fogo verde esmeralda encontrou o olhar castanho dele. ─ Ivy. Coisa de louco, mas o toque quente da mão delicada na sua foi o bastante para o fogo da paixão espalhar-se por suas veias em ondas incontroláveis. Quero essa mulher, pensou. Quero-a para amar, para ser minha total e irrestritamente. Ao final de algum tempo, Ivy sabia muito sobre ele, enquanto ele pouco desvendara sobre ela, o que só fez aumentar sua excitação. Ivy o levou para explorar os encantos da “Cidade Eterna”, fizeram compras, pararam num pequeno café e pediram fondue. O encontro terminou na suíte terraço de um hotel encantadoramente romântico. A cama, a maior que ele já vira, parecia feita para amantes e só para amantes. Ele tomou-a no colo envolvendo-a com os braços, os olhos dela brilhando de desejo. Levou-a até a cama, ficou olhando-a despir-se com simplicidade e sem pressa num movimento natural e puro. Quando o calor do corpo dela incendiou o dele, as mãos hábeis manipulando respostas em todas as áreas que tocavam, fizeram amor sem pressa, com se tivessem todo o tempo do mundo. Exaustos, ficaram deitados, Ivy aninhada em seu abraço. Quando ela finalmente se recuperou, se debruçou sobre ele e balbuciou, a voz tremula: ─ Amo você. Aconteça o que acontecer sempre vou amar você. ─ Amo você. Vem comigo para o Brasil, Ivy ─ ele quase implorou. Ela riu. ─ Doce loucura, mas com você vou pra qualquer lugar do mundo. De manha, Lucas adiou seu retorno a São Paulo. Pensou: que se danem os negócios. Tinha que viver essa louca paixão. Dar tempo a Ivy para arrumar suas coisas. Estava louco por ela. Às tardes, iam para o ninho de amor ─ como ela se referia à suíte deles. Numa delas, Ivy se entregou a ele com se estivesse sendo arrastada por um torvelinho de desejo alucinante. Era como se fosse a primeira vez, e a ultima. E foi. Ela não apareceu no dia seguinte, nem no outro. Sumira sem deixar rastro, deixando-o desesperado. Seu celular só dava caixa postal e dela só restou as lembranças da sua ilusão. Pela manha, quando Lucas estava prestes a deixar o quarto de hotel, o camareiro lhe entregou um envelope. Era um convite para uma festa na casa do poderoso Enrico Mastelli ─ um homem muito rico e poderoso. O que havia por trás do convite? ─ Lucas se perguntou, contraindo o canto dos lábios. Viera a Roma negociar um empreendimento imobiliário, mas nada que envolvesse Mastelli. Não o conhecia, tampouco tinha quaisquer relações comerciais com seu conglomerado de empresas. Deu de ombros. Não estava a fim de badalação, mas uma festa na mansão de alguém tão famoso não era algo a se desprezar. E de novo, um nome veio à cabeça: ─ Ivy! Sentiu-se abalado pelo turbilhão de emoções que o nome provocava. E as recordações. As lembranças maravilhosas... Começava a festa. Um homem alto e atraente, de seus quarenta e poucos anos, se aproximou. ─ Sou Enrico Mastelli. Estou contente que tenha aceitado meu convite, senhor Lucas Vale. Ele ficou parado, aturdido, tentando se controlar. Sugou o ar com força e apertou a mão estendida. A boca do homem sorria, mas os olhos eram ameaçadores, a linha tensa do maxilar esculpida em pedra. ─ Conhece Ivy, minha mulher? ─ Encantado ─ falou Lucas, um fio de exasperação irada na voz. ─ Ivy, dance com o nosso convidado ─ ordenou Enrico num tom que não admitia negativa. Lucas envolveu a cintura delgada com raiva. ─ Ora, ora, está se divertindo? ─ debochou com veemência. ─ Ah, imagino que sim, não foi por isso que me convidou? A mulher deu uma risada tremula e amarga. ─ Relaxa e aproveita a festa, querido. ─ Por que não me contou que já era de outro? Nós dois... ─ Será que ainda não entendeu que nós dois nunca existiu ─ falou interrompendo-o. E imprimindo à expressão um ar de cinismo, continuou: ─ Você foi um amante adorável, mas não significou nada. ─ Não pode estar falando serio ─ ele retrucou num sussurro. ─ Eu menti, Lucas ─ disse ela rindo, mas era um som débil e falso ─ Usei-o para provocar meu marido e deu certo. Graças a você nunca fomos tão felizes. O olhar do homem quedou-se de amargura em proporções colossais, cada centímetro do seu corpo odiando as palavras ferinas que o magoavam mais do que poderia suportar. ─ Você foi minha maior paixão e maior desilusão, Ivy. Estou enojado ─ exclamou largando-a no meio do salão dourado. Ironicamente, os acordes da canção Champagne encheram o ar. A ele restara somente um copo. Brindar o fim de uma paixão, o início da sua dor. Estalou os dedos no ar. ─ Garçom, champanhe, por favor! A um canto, Enrico os observava. Quando Ivy passou por ele feito uma bala, agarrou-a com força. ─ Livrou-se do seu amante? ─ Solte-me! O homem aumentou a pressão no braço delicado. ─ Responda! ─ Você venceu, Enrico. Lucas nunca mais vai me procurar. Ele me odeia ─ explodiu a mulher, a voz rouca latejando de emoção. ─ Ama-o tanto assim? ─ Como jamais amei você ou amarei qualquer outro. Enrico soltou-a como se tivesse levado um choque. Amargurado, ele se deu conta de que embora os tivesse separado ameaçando matar Lucas se Ivy o deixasse, a vitória tinha o amargo sabor de derrota. A ele só restara uma linda peça em sua gaiola dourada. O coração de Ivy, toda ela, ah, era de outro. Inspirado na canção Champagne de Pepino de Capri - música no Site do Escritor. Marisa Costa
Enviado por Marisa Costa em 07/08/2014
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