Cont. do conto: O Garoto da Estação de Trem Se eu soubesse que o dia seria marcado por avalanches de emoções, nem teria dormido naquela noite. Estar fazendo 13 anos era para mim como um “sair das fraldas” rumo à maioridade. Eu me sentia uma adulta e isso me encantava. Mal sabia eu que ser criança é uma das coisas mais incríveis da vida, e se soubesse como é complicado o mundo dos adultos, teria dado muito mais valor à fase tão bela. Pulei cedo da cama louca de expectativa com a festa, logo mais à noite, que minha mãe fizera questão de preparar. Abri a janela do meu quarto e me deparei com um sol brilhante num céu azul-cerúleo, a cor de tinta de uma caneta esferográfica. Então vi o imenso outdoor brilhando sob os raios dourados. “Te amo, Manuela! Quer ser minha namorada?” A emoção inflamou-se dentro de mim. A ânsia para descobrir o autor da maravilhosa façanha se tornou insuportável. Não havia um nome para eu sonhar. Podia ser um dos garotos da minha nova turma de meninos e meninas, que viviam no portão lá de casa, desde que eu me mudara para Belo Horizonte, pensei. Sabia de pelo menos dois que queriam ficar comigo, mas apesar do excitante glamour da minha nova vida, eu não conseguia me interessar por nenhum deles. Meu coração cultivava fortemente a paixão pelo inesquecível garoto da estação de trem nas noites longas e solitárias. E sempre tinha a mesma resposta: eu o amo. Eu continuava a ser uma garota mais do que tola, sabia disso quando tentava perseguir os raios da lua. A paixão tem dessas coisas, desculpava-me. Apesar de ele me escrever cartas românticas, de dizer que era louco por mim, ainda assim, não tinha esperança de tornar a vê-lo. Já se passara quase um ano desde que eu me mudara e os nossos mundos pareciam distantes. A festa estava animada. Meninas e meninos dançavam sem se agarrarem, som baixo ─ exigências do meu pai, mas tudo bem. O pessoal não estava nem ai, todos pareciam estar se divertindo, menos eu, ocupada em quebrar a cabeça e descobrir quem seria o apaixonado que me presenteara com tão bela mensagem. Decidi que o autor do outdoor não era nenhum deles. Pensei em Bruno ─ o garoto da estação de trem ─ que sequer se lembrara do meu aniversario, magoando-me profundamente. Lá pelas nove da noite, cheia de me sentir infeliz, fui dançar quando a campainha tocou. Imaginei quem poderia ser, todos os meus amigos já haviam chegado. Um sorriso desfilando incríveis dentes brancos na boca bonita, emoldurado pelo cabelo preto revolto caindo nos olhos escuros, me presenteou, realizando o mais belo de todos os meus sonhos. Gato toda vida, Bruno tirou do bolso do jeans uma caixinha, abriu-a, revelando um anel com um pequeno brilhante. Agarrando a minha mão, disparou: ─ Te amo, Manuela! Quer ser minha namorada? Engasguei procurando ar. Ele estava se revelando um mestre em “chegar causando” e eu em ficar sem palavras. Abri um largo sorriso vendo ele enfiar o anel em meu dedo, as palavras finalmente se desentalando em minha garganta. ─ Sim, sim! Você é incrível! Olhei para os lados. Nem sinal do meu pai. Sem pensar duas vezes fechei os olhos, inclinei o rosto em direção aos seus lábios entreabertos, deixando-me voar nas asas do mais belo, romântico e mais encantado beijo de toda a minha vida. (*) Imagem fundo: Google Adaptação da autora Marisa Costa
Enviado por Marisa Costa em 06/05/2014
Alterado em 08/05/2014 Copyright © 2014. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |