Tânia abriu os olhos. Um liquido quente e viscoso escorria pelo seu rosto. Não podia se mexer, estava escuro e respirava com dificuldade. Não havia mais ar. Então, ela se lembrou. Alguém a agredira. Estava... estava presa no porta malas do carro.
Três anos antes... Tania era uma jovem e recém-viúva que herdara muito dinheiro quando seu amado marido morrera de câncer. Sua historia começou quando conheceu Ernani pela Internet. Para ela era só um bate papo agradável em suas noites solitárias. Para ele não. Em pouco tempo passou a estar em todos os lugares aonde ela ia. ─ Como vou convencê-lo de que não estou interessada? ─ Eu estou. Case-se comigo. Era o homem mais interessante do mundo e só queria ficar com ela, pensou seduzida. Casaram-se. Algum tempo depois, Tânia passou a odiar a pessoa que se tornara. Ali estava ela a bisbilhotar os bolsos, o celular de Ernani, procurando uma explicação para sua repentina indiferença. Até descobrir na tela do computador fotos apimentadas entre seu marido e uma mulher loura e bonita. ─ Você é repugnante ─ explodiu ela. ─ É só um jogo da Internet. Não é real ─ se defendeu ele, abraçando-a. ─ Um jogo idiota! Tânia se forçou a acreditar. Não queria deixá-lo, afinal o amava. Assim como a esposa descobre a amante, a amante descobre a esposa. Mas, diante do choque inicial, parece que elas preferem viver na ilha da fantasia, fingindo que nada está acontecendo. Célia se aproximou de Tânia, progressivamente. Ia a eventos onde ela estava com o marido, até bater em sua casa e abrir o jogo. ─ Afaste-se de Ernani. Nós vamos nos casar. Tânia se preparou para pedir o divorcio. Só não esperava por aquilo. ─ Eu te amo tanto ─ disse Ernani ao chegar do trabalho. ─ Veja a surpresa que preparei para você. Reservei um chalé dos sonhos só para nós dois, à beira mar. Será nossa segunda lua de mel. Tânia olhou-o tentando encontrar a verdade nos olhos azuis. ─ Oh, querido, eu também amo você! Enquanto Tânia se preparava para a viagem, Ernani pedia a amante em casamento. ─ Queria ficar com minha família, mas descobri que não posso viver sem você. ─ Vai largar sua mulher, não vai? ─ Assim que voltarmos da viagem. Célia acreditou. Estava louca por ele. Durante os dias na ilha paradisíaca, amaram-se com paixão. Tânia pensou: ele está de volta. Finalmente de volta. No ultimo dia, Ernani fez questão de preparar o café. Tânia achou o gosto esquisito e recusou o resto. Nisso o celular dele tocou e ela atendeu. Era uma mensagem: “Espero por você, cowboy. Louca de saudades, Celia”. Enquanto Ernani tomava seu banho, Tânia se arrumou para ir embora. ─ Engraçado dividir a cama com um homem por mais de três anos e não saber se ele está dizendo a verdade. Quero o divorcio, Ernani. ─ Se me deixar, eu me mato. ─ Mate-se! ─ gritou, jogando o celular na cabeça dele. ─ Me dê um tempo Tânia e vou me livrar dela, eu juro! Ela riu sarcástica. ─ Seu tempo se expirou querido... ─ Um pouco de paciência, é só o que lhe peço. É que você é tão capaz... em tudo. Ela não. É frágil e precisa de mim. Estranho... o coração está partido e ainda assim continuo amando quem o partiu. Odeio a outra, não ele. ─ Eu preciso mais ─ suspirou ela. ─ Por favor. ─ Está bem. Na volta, Ernani procurou por Célia. ─ Tânia não quer me dar o divorcio. Você... você mataria minha mulher por mim? Célia olhou-o por um momento, então fez que sim com a cabeça. Dias atuais... Enquanto Tânia fechava o portão da garage, algo a golpeou duramente na cabeça. Três dias depois de dada como desparecida pelo marido, a policia encontrou seu carro numa estrada de pouco movimento. Estava morta por asfixia e concussão cerebral. Principal suspeito do crime, Ernani foi preso. Mas, ele tinha um álibi. Então, acusou a amante do assassinato motivado por ciúmes doentios porque ele a abandonara. Célia foi presa e ele solto para aguardar o julgamento em liberdade até a conclusão do inquérito. No entanto, Ernani sabia que o depoimento de Celia podia por tudo a perder e ele tinha grandes chances de ser condenado. Dias antes do julgamento... Ernani gravou um vídeo se dizendo inconsolável pela morte da mulher, e já que a vida perdera todo o sentido sem seu grande amor, não queria mais viver. Ia se matar em poucos instantes. Depois, o enviou por e-mail, para vários de seus amigos e vizinhos. Amarrou uma corda numa viga do telhado, subiu na escada ao lado, pôs a corda em volta do pescoço, e esperou mantendo os pés firmemente apoiados na escada como medida de segurança. Ele tinha certeza que em poucos minutos os amigos viriam socorrê-lo e evitar a tragédia. E o júri comovido, veria com bons olhos seu desespero e ele escaparia da condenação. Foi então, que num movimento impensado a escada caiu para o lado e ele ficou ali, com o pescoço preso na corda, o corpo sacudindo desesperadamente, no estertor da morte. Quando Celia soube da morte de Ernani, sorriu. ─ Você quis se livrar de nós duas, mas se deu mal, querido. Agora está debaixo de sete palmos de terra, e eu, com um pouco de sorte, em alguns anos vou estar em liberdade. Marisa Costa
Enviado por Marisa Costa em 05/09/2012
Alterado em 26/07/2016 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |