Inglaterra, ano de 1390...
Ashira se esgueirou furtivamente, pelos corredores escuros do castelo. Sorriu consigo mesma. Usara seus poderes para entrar na fortaleza, no entanto, intuitivamente, sabia que não devia ter aceitado o serviço. Se alguém a apanhasse, nem feitiçaria a livraria de uma morte horrível. Mas a amante rejeitada do Conde a pagara em ouro, e ela adorava se cobrir com o metal. Sem ser vista chegou até o quarto principal. O Conde parecia dormir. Tirou o veneno de entre os seios e se aproximou da cama. Estacou, surpresa. Não havia ninguém lá, somente cobertas enroladas em uma manta. O som irônico de uma voz a fez dar um salto para trás. ─ Pensou que eu era presa fácil, minha cara? ─ Como...como descobriu ─ gaguejou, Ashira. ─ Madame Letícia me falou de você. Imaginei que usaria seus serviços para se vingar. Simples assim. Ashira se aproximou do Conde disposta a usar sua beleza e sensualidade para seduzi-lo, e se safar. Puxou-o para si e o beijou. Como ela esperava o homem sucumbiu aos seus encantos, para no momento seguinte, empurrá-la, violentamente. ─ Guardas, prendam essa feiticeira! Inglaterra, ano de 2009... Parada em frente ao castelo, Mariângela tentou encontrar uma explicação. A cidade não estava em seu roteiro de viagem, no entanto, era como se uma força poderosa a arrastasse até ali. Estaria encerrada naqueles muros o que buscava? Respostas para a visão repetitiva que a pertubava, se perguntou. Súbito, como se estivesse em transe, um passado remoto delineou-se em sua mente. Tinha um outro nome,... Era... era Ashira. Outra aparência,... mas tinha certeza de que eram a mesma pessoa. Estava num lugar fétido, infestado de ratos, pulgas e baratas... Era uma prisão... Estava ali sob a acusação de bruxaria; julgada e considerada culpada. Num canto da cela havia duas mulheres sujas, cabelos e pelos raspados, pratica usada pela Santa Inquisição, na esperança de encontrar a “marca” do diabo. Eram inocentes, diziam, e exatamente por declararem sua inocência, iam ser executadas pela manha, condenadas a morrerem queimadas vivas em praça publica. Ashira sentiu muito medo por sua sorte. Afinal, fora pega em fragrante. Se pelo menos tivesse as poções comigo, pensou em desespero, talvez pudesse me salvar. Sem saída se encolheu num canto e esperou. Dias depois, três homens abriram a porta do calabouço. O que parecia ser o chefe disse: ─ Amarrem-na, bem. A bruxa pode tentar fugir. Todos riram. Com um ultimo resquício de dignidade, Ashira cuspiu no rosto de um deles. ─ Vadia ─ exclamou o homem, esbofeteando-a. ─ Quando souber o que a espera vai perder a pose e implorar para morrer. Levaram-na através de diversos compartimentos sem portas, janelas ou quaisquer aberturas. Desceram uma escada, e estavam nas grutas subterrâneas onde os mortos eram enterrados. Ashira teve os pés e mãos atados à parede, onde havia pedras e algo parecido com argamassa. E então, ela compreendeu. Ia ser emparedada viva. Gritos altos e agudos, capazes de fazer tremer o mais insensível dos mortais, abafaram sons de ferramentas, gargalhadas e palavras obscenas, ao tempo em que seus algozes a emparedavam lentamente; ironicamente, estendendo a vida e a hora da morte a um só tempo. A parede agora estava ao nível do seu rosto. Ashira chorou, baixinho. Um choro triste, doído, desesperançado. Fechou os olhos para só abri-los na escuridão total. Sugou com força o ar restante até os olhos quase saltarem das órbitas; a boca retorcida no esgar da morte. Mariângela voltou, subitamente, ao presente com a sensação de asfixia. Quando conseguiu respirar, pensou: a visão explicava muitas coisas. Essa era a vida que menos poder ela tinha, no entanto, ainda trazia consigo estranhos poderes que não entendia. ─ Então, eu... eu era uma bruxa.... Diante do impacto da revelação soltou um profundo suspiro de alivio. ─ Ainda bem que os tempos eram outros! Marisa Costa
Enviado por Marisa Costa em 17/05/2012
Alterado em 26/07/2016 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |