Marisa Costa

Saber sonhar é saber viver!

Textos

 
Todo dia ele acordava à mesma hora, saia pela mesma porta, passava pelo mesmo majestoso jardim, e caia no transito congestionado de sempre para chegar ao escritório.
Todo dia, parada no cruzamento da movimentada avenida, lá estava a mesma menina franzina, agasalhando seu cãozinho junto ao pequenino corpo debaixo da blusa fina, as mãozinhas estendidas, perdidas no ar...
E todo dia, sua indiferença não lhe permitia ver o brilho daquele olhar, a ternura do gesto da menina.
Olhos opacos, perdidos na correria do dia a dia, ao sinal verde do semáforo ele arrancava apressadamente, absorto em seus próprios pensamentos.
Uma manha, chegando ao cruzamento da mesma movimentada avenida, ele ouviu uma freada brusca, seguida de um baque surdo.
Lamentou. Fosse o que fosse que tivesse acontecido, chegaria atrasado ao trabalho. Depois de quinze minutos sem sair do lugar ele desceu do carro, abriu caminho por entre a pequena multidão e viu a linda menina franzina estirada no chão. O cãozinho, incólume, jazia ao lado dela, a cabeça apoiada sobre o corpo sem vida.
O regate chegou para levar o pequenino corpo, mas o cãozinho dele nao se desgarrou.
No centro da emoção, grossas lágrimas rolaram pelo seu rosto e ele as limpou se perguntando quais seriam os sonhos da menina. Teria ela família, alguém que chorasse a sua morte a não ser o seu fiel amigo?
Pensou em tudo o que vira e nunca enxergara de verdade, se dando conta de que fora preciso estar diante da morte para notar a meiguice e a existência da menina. 

Seria ele, também, invisível aos olhos dos outros?
Desejou ter uma sorte diferente daquela menina.
Marisa Costa
Enviado por Marisa Costa em 10/07/2013
Alterado em 10/07/2013
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