Marisa Costa

Saber sonhar é saber viver!

Textos

Razão e Emoção

O olhar era de admiração, mas sem insinuar. Apreciador, mas sem constranger.
Quando o homem se aproximou, Kate se perguntou o que ele poderia querer com ela. Tinha uma beleza máscula, um irresistível ar de perigo e rebeldia que sugeria pensamentos inconfessáveis. Imaginou quantas mulheres resistiriam ao seu charme. Provavelmente, nenhuma, pensou.  
A inquietação aumentou. Kate tivera a infelicidade de nascer numa família de pais bonitos e bem sucedidos, e de uma irmã deslumbrante e inteligente, onde ela era apenas o patinho feio que não se encaixava na família Salazar. Não que fosse feia. Seria até graciosa se não fosse tão tímida; se conseguisse se livrar de seu profundo sentimento de inferioridade.  
Lucas se apresentou de um jeito encantador, como representante comercial de uma multinacional, fluente em cinco idiomas, algumas viagens internacionais pela empresa onde trabalhava, e estava no Rio a trabalho.
Depois de um papo envolvente, Kate sentia-se mais feliz do que em qualquer outro momento da sua vida. Era o cara dos seus sonhos, pensou. Sincero, carente e... a valorizava.  
Quase sem perceber cometeu uma loucura que jamais se imaginou capaz. Levou-o para seu apartamento e fez amor com ele, depois de ir para os seus braços e dançarem a musica lenta e romântica.
Na manha seguinte, enquanto se vestia para trabalhar, Lucas disse que ia para um hotel, e Kate se viu convidando-o para ficar enquanto estivesse na cidade. Afinal, eram só três dias. Ele acabou ficando uma semana, e nesse meio tempo, monopolizara o controle remoto, o espaço, e ela.
Duas semanas depois, ao abrir a porta e dar de cara com Lucas, ela se controlou para não se atirar em seus braços. Estava irremediavelmente apaixonada.
- Decidi morar definitivamente, no Rio. - ele falou, tomando-a nos braços. - Não posso mais ficar longe de você, meu amor.
Então ela viu as malas. Achou estranho ele se mudar para sua casa sem a consultar, porem repudiou o pensamento, e sorriu feliz.
- É maravilhoso, meu amor.

Lucas já morava em sua casa há três meses e raras vezes o vira sair para trabalhar. O apartamento tinha roupas espalhadas pra todo canto, ela arcava com todas as despesas e nada dele se mexer.
- Amor, não estou cobrando não, mas você precisa me ajudar no orçamento.
- Claro, meu bem, tem toda razão. É que essa crise na Europa está atrapalhando os negócios. Simplesmente, não consegui vender nada.
- Perdoe minha insensibilidade, querido. Sei que está se esforçando.  

Certa noite, Kate perdeu a paciência.
- Quando é que vai se mexer e sair do sofá? - explodiu. - Já que não entra com o dinheiro, podia pelo menos arrumar essa bagunça.
- Está reclamando do quê? - perguntou sarcástico. - À noite eu não compareço?
Ela o fitou com ódio, dizendo gelidamente:
- Relacionamento não é só sexo.
- Quer que eu vá embora? - revidou desafiador. - Vou agora mesmo, é só dizer.
Kate tremeu. Lucas era para ela como um antídoto para um mal incurável. Não percebia sua vida sem ele.
- Claro que não.
- Então pare de me criticar - ele a envolveu em seus braços. - Faço o que posso. Só não estou com sorte, ultimamente.
A essa altura ela devia o cartão de credito, afundara no cheque especial, tudo porque Lucas não resistia a artigos luxuosos de grife, e ela não conseguia lhe dizer não.

A convivência mostrou a Kate que tanto encanto e charme era tudo fachada. Lucas não se importava com os sentimentos dela. Era egoísta e manipulador. Se ela reclamava, ele sumia para só aparecer na noite seguinte, revertendo a situação, de tal forma, que ela se sentia a culpada e ele a vitima.
Kate sabia que não podia mais adiar. Era chegado o momento de descobrir quem era Lucas.
A família dele realmente morava no sul, tinha posses e ele era filho único. Mas ficou perplexa ao descobrir que Lucas pedira demissão da multinacional quando fora morar com ela. E o pior: já fora casado duas vezes, e praticamente deixara as ex-mulheres arruinadas financeira e emocionalmente.

Arrasada, porem determinada, o mandou embora da sua casa e da sua vida. Lucas foi, deixando claro que ela não o compreendia. Era quase como se não tivesse noção do que fizera, quase como se não sentisse culpa alguma.
Um tempo depois, um Lucas arrependido bateu à sua porta:
- Eu te amo. - sorriu com seu jeito de menino doce e carente - Não consigo viver sem você. Prometo que dessa vez tudo será diferente.
Durante um segundo inteiro, Kate travou uma tremenda batalha entre razão e emoção: agir com racionalidade ou ouvir a voz do coração? Pensou no seu sofrimento, no quanto sentira falta dele. Lucas podia ser um cafajeste, um psicótico, mas a completava.
Pensou: loucura? Obsessão? Masoquismo? Deu de ombros. Que atire a primeira pedra quem nuca sucumbiu à loucura de uma paixão.
- Entre - disse ela se atirando em seus braços.
















Marisa Costa
Enviado por Marisa Costa em 23/04/2012
Alterado em 26/07/2016
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